O Exorcista: Qual a Melhor Forma de Crer em Deus? Enfrentando o Diabo!

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Vamos dissecar um dos maiores clássicos do terror de todos os tempos, e responder uma pergunta: a melhor forma de crer em Deus é comprovando a existência do Diabo?

Nestas linhas que seguem, vou analisar, dentro de um universo tão rico quanto do filme “O Exorcista”, William Friedkin, 1973, apenas um personagem: o Padre Damien Karras, Jason Miller, junto da narrativa em si, pois um completa o outro.

REFLEXÃO

Linda Blair, O Exorcista, 1973

O drama da atriz Chris MacNeil, Ellen Burstyn, em ver Regan, Linda Blair, sua filha única definhando em dor e desespero nas mãos de médicos e exames, nos faz refletir em como a vida é delicada e a qualquer sinal de fogo, somos profundamente abalados. Apesar disso, das dores todas, Chris acredita que os médicos vão curar o problema de sua filha.

E O DIAGNÓSTICO?

Ellen Burstyn, O Exorcista, 1973

Mas e quando a ciência não tem todas as respostas? E quando as regras e exatidões médicas não suprem nem identificam o problema de alguém? E o pior: e quando o último recurso é a religiosidade, lugar que depende das crenças, dogmas, dentre outras coisas amorfas que podem ou não curar-lhe as dores do corpo e da alma?

Pois é isso que se passa na cabeça de Chris quando, em uma reunião com vários médicos e muitas incertezas sobre o caso de sua filha, lhe é sugerido um padre exorcista para expulsar, tratar, mesmo que de forma psicoterapêutica (o famoso placebo), sua “manifestação alienígena”.

Bom deixar registrado que os médicos e seus orgulhos todos não acreditavam de forma alguma que Regan estava a passar por manifestações sobrenaturais. Como dito antes, achavam, e com muito desdém, inclusive, que seus problemas eram apenas de ordem psiquiátrica e que uma sessão ou outra de exorcismo seria tão eficaz quanto idas regulares à análise.

EM NOME DO PAI…

Jason Miller e Ellen Burstyn, O Exorcista, 1973

E como qualquer mãe, Chris corre atrás do possível remédio para sua filha, achando que este poderia ter alguma resposta: no caso, o Padre Damien Karras. Agora o filme segue para um exorcismo e todos têm um final feliz, certo? Errado, pois o padre em questão está a passar por uma seríssima crise de fé. Adentramos, portanto, nos dilemas humanos tanto do padre quanto da pessoa de Karras, observando uma dialética entre o divino e o profano, que têm como síntese, o homem.

O HOMEM

Jason Miller, O Exorcista, 1973

Além de padre, Damien Karras também é conselheiro psiquiátrico na Universidade de Georgetown, Washington DC. Jesuíta de formação, ele vive em um bairro periférico, em um apartamento modesto e sem luxos. Nas folgas, vai de trem até Manhattan, Nova Iorque, cuidar de sua mãe já idosa e debilitada.

Neste cenário, Karras passa a questionar a Deus, o Diabo e suas escolhas de vida, dentre outros dilemas e paradoxos: ele poderia ter seguido na área da saúde, a psiquiatria, pois assim conseguira bancar um tratamento digno a sua mãe. Todavia, como Padre Jesuíta, Karras fez, dentre outros, votos de pobreza. Seu desejo de ter melhores condições financeiras é confrontado pelos seus votos perante Cristo e carestia.

Apesar destes desejos contraditórios em pleno conflito, observamos Karras, em determinada cena, negar esmolas a um morador de rua. Mas por ter feito votos de pobreza, não deveria abrir mão de seus poucos trocados? Este recorte serve para evidenciar como Karras, antes mesmo de ser Padre, é, enquanto homem, um ser humano cheio de contradições. Talvez sua crise de fé seja um dos sintomas desta persona tão paradoxal.

CÉU E INFERNO

Pazuzu, O Exorcista, 1973

Karras está a duvidar da existência de Deus, dos motivos e mistérios da vida e morte. Como um cientista em busca de respostas para seus questionamentos, ele quer a prova cabal da existência de Deus. Porém, muito diferente de um cientista, que pode colocar em vidros e medições suas experiências, Karras é incapaz de mensurar a presença divina em sua vida. Mas, e se a antítese de Deus se fizesse presente? Será que provaria, de alguma forma, Deus?

Se há o frio, existe o quente. Se há o claro, existe o escuro. Se há o alto, existe o baixo. Mas será que a simples presença do yin prova a existência do yang? Considerando a mitologia cristã, se há o Diabo, necessariamente deve haver a figura de Deus enquanto criador das vidas e mortes todas. O que se segue ao longo do filme, logo após Chris procurar a ajuda de Karras, é o seu confronto interno com as diversas e indubitáveis manifestações sobrenaturais que afligem Regan. Se aquilo não são manifestações psíquicas, o que (ou quem), são? A cada instante, Karras fica frente a frente com ele…

ATO CRISTÃO

jason Miller e Linda Blair, O Exorcista, 1973

Mesmo sem estar absolutamente convicto da veracidade daquele caso, Karras pede a seus superiores que o liberem para realizar o ritual de exorcismo junto de um Padre mais experiente — no caso, Padre Lankester Merrin, Max Von Sydow, que tem em seu “currículo”, um polêmico exorcismo realizado nos anos 50. Assim que chega a noite do exorcismo, Padre Marrin orienta Padre Karras a não dar ouvidos ao demônio, uma vez que ele se utiliza de jogos psicológicos para nos perturbar. A qualquer sinal de fogo, somos profundamente abalados. E é disso que o Diabo gosta!

A entidade, durante o ritual, faz zombarias sobre a morte da mãe de Karras, deixando-o confuso e atordoado. Ali, neste momento, o Diabo começa adentrar sua mente. Porém, uma outra mensagem adentra seu coração: em um dos momentos finais do longa, Chris pergunta preocupada se Regan tem chances de morrer. Karras entende aquela pergunta como uma súplica, fazendo de tudo para livrar a menina daquele mal. Fazer por Regan o que não pode fazer por sua mãe: salva-la. Sem maiores explanações sobre os últimos momentos do filme, Karras, num ato quase cristão, pede para que aquela entidade adentre seu corpo, sacrificando-se por Regan.

Ao observarmos seu arco narrativo, o vemos de uma dúvida quase que paralisante, à sua indubitável certeza da presença demoníaca que rondava aquela casa; finalizando com um ato de sacrifício em nome de algo maior, tal qual Jesus Cristo, morto na cruz, pagando por todos os nossos pecados e nos salvando do suplício eterno.

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